terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Não se esqueça de Viver !!!!

Por: Philippe
http://www.shamballabrasil.com


Para muitos praticantes, a meditação é bem mais do que uma simples ferramenta de bem estar, mais do que uma prática que torna a mente mais calma. Para esses aventureiros, a meditação é um caminho de auto-conhecimento, uma prática para entrar em contato com seu poder criativo e aprender a reconhecer e ultrapassar a ilusão de limites que cada um está colocando na sua própria vida.

Apesar disso, para quem não tomar cuidado, a prática da meditação pode se tornar uma fuga e não uma ferramenta para conhecer melhor a si mesmo. Os sinais disso são muito simples: a pessoa não consegue mais passar um dia bom ou lidar com os desafios do dia a dia caso não teve tempo de fazer a sua prática, ou começa a tornar isso um dogma para as mínimas decisões do dia a dia. Para mim, isso me mostra claramente que a pessoa está fugindo da experiência presente e que perdeu a noção entre o que é a ferramenta e o que é o propósito.

Claramente, o objetivo da meditação não é de fugir do dia a dia para passar o tempo voando pelo cosmos jogando baralho com os vários mestres de outras dimensões e comentando o quanto a situação está feia “lá em baixo”.Ao contrário, o caminho de meditação deve levar o praticante a se tornar mais real na sua própria experiência da 3ª dimensão. Claro, já vem um grande desafio que é de criar um contato consciente com o que somos de verdade, e não com a idéia daquilo que somos. Uma vez consciente desse contato, o ato da meditação se torna tão natural quanto a respiração, permitindo que a nossa realidade flua através de nós até a nossa experiência nessa dimensão.

Por isso, eu falo sempre de não esquecer de viver, de não ter medo de viver. Quantas pessoas, entrando no caminho de meditação, têm medo de fazer diferente de como estava escrito no livro que leram ou de como o professor falou que estava certo.
A minha resposta é: “Simplesmente vivam, sendo o mais verdadeiro possível! É só assim que vão entender e experimentar o SER que vocês são”.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

“Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma.
Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.”


Rubem Alves

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Perséfone, Papisa e o signo de Virgem

Titi Vidal


Era uma vez uma menina chamada Core. Vivia perto de sua mãe Deméter, conhecida pelos romanos como Ceres, uma deusa responsável pelas colheitas e pela natureza abundante. Um dia o deus do mundo dos mortos, Hades, se encantou por esta jovem garota e decidiu raptá-la. Levou-a com ele para seu reino, que tinha seu próprio nome: Hades. Fez dela mais do que uma mulher: Coré, que então passou a se chamar Perséfone, tornou-se a rainha do Hades, um mundo cheio de mistérios e conhecimentos ocultos.
Imediatamente ela aprendeu tudo sobre o mundo oculto e tornou-se uma grande sábia e iniciada nesses mistérios. Ganhou poder através deste conhecimento e passou a governar o mundo dos mortos com seu marido. Porém sua mãe sentiu muito sua falta e parou de cuidar de suas atividades ligadas a natureza. Com isso o tempo secou e as colheitas foram prejudicadas. Preocupados com isso, alguns deuses conseguiram um acordo com sua filha, que aceitou dividir sua atenção entre seu marido e sua mãe. E assim surgiram as estações do ano, já que quando Perséfone vinha para a superfície, Deméter se enchia de alegria e acontecia a primavera e depois o verão, pois a companhia de sua filha querida enchia a deusa de alegria e ela cuidava bem da natureza. Quando a filha ia embora, para o Hades, Deméter sofria novamente, trazendo o outono e o inverno.
Perséfone tem essa habilidade de viver em dois mundos com tranquilidade e por isso personifica bem o signo de Virgem, regido pelo planeta Mercúrio, que tem essa flexibilidade e capacidade de se movimentar com leveza. Ela é sábia e intuitiva, sempre sabendo a hora certa de agir ou se recolher, de subir à superfície ou se manter nas profundezas do Hades, o que também personifica muito bem o signo de Virgem, que é muito inteligente e conhece os segredos práticos do mundo.

Perséfone é uma verdadeira guardiã de todo seu conhecimento e de todos os mistérios mais profundos. Sabe, mas é humilde, não revela seus segredos. Pelo menos não para qualquer pessoa e não tudo que sabe. Isso mostra muito também da discrição dos virginianos, que demonstram sua sabedoria na prática do dia a dia, sem precisar ficar falando sobre o que sabem ou como algo deve ser feito. Simplesmente fazem, agem, às vezes sem nem serem notados. Seus feitos podem se tornar públicos, reconhecidos. Mas a própria pessoa tende a discrição, não faz questão de aparecer pelo que faz, mesmo que faça algo extremamente importante.

Perséfone tornou-se a grande anfitriã do Hades, recebia as almas e as acolhia.
Foi a grande rainha do mundo dos mortos, exercendo um papel importante. Foi uma cuidadora, alguém sempre pronta a ajudar todos que por ali chegavam ou que precisavam de alguma coisa daquele mundo. E essa é outra característica totalmente virginiana, que é cuidar das pessoas, ser prestativa, sempre pronta para ajudar. O signo de Virgem também representa o lado puro, virginial, característica que Perséfone sempre teve, primeiro como a virgem Coré e mesmo como Perséfone, que apesar de mulher sempre manteve seu lado infantil, como a filha de sua mãe.

O signo de Virgem representa bem essa dualidade, entre a pureza, que antecede as escolhas e a decisão de se entregar para o outro (vem logo antes de libra no zodíaco, signo que rege os relacionamentos e as trocas) ou para qualquer situação na vida. Por isso é um signo prático, que fala também da construção de tudo passo a passo, no dia a dia, momento a momento, com esforço e dedicação. Por Virgem vai experimentando, sempre com atenção aos detalhes, até que possa escolher definitivamente alguma coisa ou simplesmente perceba que aquilo já faz parte de sua rotina e, portanto, de sua vida.
No tarô mitológico Perséfone representa a Papisa, arcano II. É uma carta que fala sobre uma grande sabedoria guardada por uma figura feminina. Trata-se de alguém que sabe muito, que conhece os mistérios da vida, mas que guarda todos eles para si mesma, pois sabe que é algo importante demais para ser compartilhado à toa. Ela mostra o que sabe por atitudes, muito bem pensadas e sutilmente realizadas.

A Papisa, assim como Perséfone e os virginianos, sabe muito bem quando falar e quando calar. Quando agir ou quando esperar. É isso que nos ensina. Observar a vida, sentindo na pele e em seu coração o momento certo de cada coisa. Saber quando se recolher no Hades, mantendo-se sempre reflexiva e introspectiva, mas sempre alerta, ou quando subir à superfície, mostrando-se ao mundo.

É um arcano que nos ensina a ter paciência e seguir mais a intuição, sabendo que nem tudo se compartilha e que vale mais aquilo que se sabe instintivamente. Perséfone e a Papisa nos ensinam a olhar para dentro, a não ter medo de descer até o nosso lado mais interior e profundo, em busca de respostas sinceras e verdadeiras. É por esse motivos que Virgem, aparentemente um signo mais frágil é também forte, profundo, intenso, capaz de transformações profundas ao longo da vida.
Mas faz tudo isso de forma discreta, tranquila, sempre em busca de paz. E assim Perséfone nos ensina a manter a calma, a olhar para dentro, saber refletir e mergulhar dentro de si sem medo do que vamos encontrar. Saber que tudo tem seu tempo certo e que há muito mais sabedoria dentro de nós do que podemos imaginar.

Temos que olhar para dentro em busca dessas respostas e perceber que podemos manter a tranquilidade e a paz, dentro e fora de nós, mesmo nos momentos mais difíceis, porque, no fundo, quando estamos serenos, sempre podemos agir com mais sabedoria e firmeza. Por sinal, Perséfone nos ensina que é possível governar a própria vida com determinação e certeza, sem perder a pureza, a beleza e a tranquilidade. Basta estarmos em contato constante com nossa essência e saber ouvir mais a voz que vem de dentro. Seguir a intuição e querer conhecer cada vez mais os mistérios da vida, que vão sendo revelados no dia a dia, conforme vamos seguindo o nosso caminho.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Saga
Rodrigo Araês

Peço licença a todos
para a história que vou contar
história de uma vida
história de um despertar

Neste lar fui nascido
era outra casa
lá nos cafundós
de um nordeste esquecido
que tinha uma outra cara
feia de fazer dó

Minha mãe me deu a casa
meu pai me deu o teto
aqui andei e balbuciei
aprendi as primeiras letras
e nos livros me afundei

Na ausência de meus pais,
quando muito pequeno,
minha tia me criou,
depois fui ficando distraído
ensimesmado, esquecido,
nem lembrava da família
na minha loucura vivia

Já em Minas,
no planeta dos mistérios,
a rua era minha casa
e na rua fiquei
quando em São Paulo cheguei

Só estava em dois lugares,
brincando fora de casa
lendo ou xadrez jogando
no mundo da Lua...

A leitura me aquecia
com ela me esquecia
deste mundo, desta lida
desta vida tão comprida
deste mistério profundo
que me encasquetava
perturbava
no fundo, bem no fundo,

O que fazia eu aqui?

Música, conversa, madrugada,
nada de viola enluarada,
apenas samba, valsa e xaxado.

A poesia, música, e a dança,
que nunca fiz,
não explicavam o mistério
do viver aqui na Terra
neste corpo, nesta forma.

Até a matemática me desencantou,
a busca embatucou
e na ânsia do saber
caí dentro do oculto,
da tradição, do hermético.

Ali me refugiei,
como um náufrago numa ilha,
perdido neste espaço
chamado universo.

40 anos, ou mais, estive em busca,
guiado por minhas mães e meu irmão,
ao meu lado minha mulher e dois irmãos,
mais tarde todos do grupo
que me ajudaram a despertar o amor
que me mostraram que além da dor
existia a alegria
aceita sem nostalgia
de um passado que se perdia

Outros ao grupo se agregaram,
despertando-me o cardíaco,
- nesta quase me estropie –
mas foi apenas susto
um primeiro despertar.

Depois de muita prática
de tropeços e quedas
parti para novos rumos
“A musa me beijou e me tornei poeta”
abri um grande espaço
que quase arrancou pedaços
da minha cabeça e coração.

Parei com quase tudo
Nada Sou, Nada Sei.

No fim a simplicidade,
só o amor importa,
e, na base que me restou
de novo aqui estou,
nesta casa, neste lar,
para abrigá-los em meu peito
dizer com todo respeito
“Só o sonho é realidade”
e de tudo que aprendi
de tudo que ficou comigo
percebo que esta casa é meu abrigo
um reflexo do amor humano

Sei com toda certeza
que minha mãe, acima desta que amo
é esta Terra que me sustenta
que meu pai, que me conforta
nos cafés matinais,
é este Céu que me ilumina.

Que todos os seres são meus irmãos
e que esta família é abençoada
por ter meu Irmão como guia
mas cabe a vocês levar o Amor
para fora desta casa
pelos atos e trabalho,
pois não se fala de Amor
Amor implica em ação,
em negar a morte da vida,
que é o bem mais sublime.

Lembrem-se:
que na noite escura da Alma
quando a solidão nos acolhe
sempre resta o lugar onde nascemos
pois nosso sangue não nega
somos Pais e Mães da nossa Terra.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

I Ching, o Livro da Sabedoria ao nosso alcance

Constantino K. Riemma




O I Ching, ou Livro das Transmutações, é um texto de sabedoria incomparável. De origem chinesa, ele integra o grupo de livros que constitui o patrimônio dos ensinamentos tradicionais. Ele apresenta um diferencial notável: é utilizado, desde a Antigüidade, como oráculo e guia para os mais variados assuntos que desafiam o cotidiano dos homens.
Os conselhos do I Ching nos ajudam a esclarecer até mesmo as menores questões práticas, porém, sua função mais nobre – como fonte inesgotável de ensinamentos – é a de nos despertar e guiar na busca do conhecimento superior. O nome, Livro das Transmutações ou das Mutações, ou ainda dasTransformações, já indica que seu conteúdo contém as leis fundamentais dos movimentos cósmicos, nos quais se incluem a vida e o destino dos homens.
Portador do segredo da longevidade, seus símbolos básicos são tirados da própria natureza – céu e terra, fogo e água, lago e vento, montanha e trovão. Talvez por isso, sejam facilmente transmitidos através das gerações e tornam-se mais compreensíveis quando traduzidos para outras línguas.

Os 64 símbolos
O Livro está constituído essencialmente de 64 conjuntos de símbolos, que revelam detalhadamente as 64 etapas dos ciclos universais, tais como os santos sábios observaram no céu e na terra. Traduzidos genericamente por hexagramas, cada um desses conjuntos ou seções contém os seguintes elementos:

o ideograma, ou seja, o nome escrito em chinês, é por si só repleto de significados simbólicos. O exemplo ao lado é Tai, o nome do Hexagrama 11, que se traduz por Paz.


o hexagrama propriamente dito, que é a representação abstrata, geométrica, de cada estágio de transmutação. Recebeu esse nome, nas línguas européias, por ser constituído de 6 linhas. Ao lado, vemos o Hexagrama 37 - A Família.
• o texto, também chamado julgamento ou oráculo, revela em linguagem simbólica o significado do hexagrama. Cada julgamento vem acompanhado de comentários e interpretações que ajudam a traduzir o ensinamento do texto.
• a imagem ou símbolo, que consiste em um modelo de conduta, um verdadeiro conselho estratégico, para lidar com a situação indicada pelo hexagrama.
• o texto das linhas, em número de seis, que indicam alternativas ou transformações das condições retratadas no hexagrama.
Nota sobre o Nome:
I Ching é a grafia corrente no Brasil. Aparece também Yi King em algumas versões francesas e inglesas. No entanto, a melhor grafia seria Yìjïng ou Yi Jing, segundo a transcrição oficial chinesa, denominada Pinyin, utilizada atualmente pela ONU, UNESCO e outros organismos internacionais.
Um pouco da história
O I Ching é considerado o mais antigo livro da China. Sua origem, ou pelo menos a de seus oito símbolos fundamentais, denominados trigramas, é atribuída a Fu Xi, que teria vivido por volta de 5500 anos antes de Cristo, para alguns, ou 2850 a.C., para outros. É pela combinação dos 8 trigramas que se formam os 64 hexagramas, portadores do corpo de ensinamentos do Livro.
Fu Xi, o lendário imperador, é representado como um deus-montanha (ilustração ao lado). A fonte inspiradora do Livro remonta à Era de Ouro da humanidade, durante a qual se diz que os guias espirituais recebiam os ensinamentos diretamente da fonte da consciência.
O segundo personagem ligado ao I Ching é o Rei Wen, fundador da Dinastia Chou (1121-256 a.C.), a quem se atribui a autoria dos 64 Julgamentos, ou seja, os textos que explicam os hexagramas.
Ao Duque Chou, filho do Rei Wen, são atribuídos os textos das 6 linhas de cada um dos 64 hexagramas, num total de 384 Julgamentos das linhas. Com ele completaram-se os textos tradicionais do Livro, que hoje contam mais de 3000 anos.
Finalmente, coube a Confúcio (551-479 a.C.) dar ao I Ching a feição que conhecemos modernamente. Seus comentários, registrados em sete obras, boa parte das quais agregadas ao corpo do próprio Livro, facilitam a aproximação aos ensinamentos esotéricos dessa corrente de transmissão espiritual.
O I Ching e o Ocidente
O contato do mundo ocidental com o I Ching se estabeleceu a partir do final do século 14, através dos relatos dos jesuítas que residiam na corte de Pequim. A primeira tradução completa do livro para o latim, feita pelo Padre Regis, surgiria apenas em 1834. No final do século 19, outras duas versões, de Legge e Filastro, ampliam a divulgação do livro na Europa.
Atualmente, a mais conhecida versão ocidental do I Ching é a de Richard Wilhelm, um pastor protestante que viveu muitos anos na China. Feita de início para o alemão, foi a seguir traduzida para praticamente todas as línguas ocidentais. (Veja: Livros).
É um acontecimento extraordinário que religiosos católicos e protestantes tenham reconhecido a profundidade dos ensinamentos do I Ching e enfrentado todas as dificuldades que trazem a tradução de um clássico chinês para torná-lo acessível a nós, ocidentais. Trata-se de mais uma evidência do poder incomparável desse legado para a humanidade, que encontrou uma linguagem a tal ponto universal, que não levanta reações de natureza religiosa nem obstáculos culturais intransponíveis para tocar a alma de todos os seres que buscam qualidade.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Mae...

Por: Joao Rafael Torres

Quando nasce uma criança, nasce uma mãe. A maternidade é percebida como um dos principais instintos que acompanha a vida, especialmente a dos mamíferos. Afinal, é a mãe quem proverá a sobrevivência do filhote nos primeiros dias/meses de vida. Não é diferente entre os humanos. A consciência que nos diferencia das demais espécies nos oferece um fenômeno único: cultivar o vínculo materno até mesmo após a morte – não existe ex-mãe. O instinto se manifesta até mesmo entre as mulheres mais desajeitadas, que se percebem outras ao ter a cria no colo: a mão acerta a pegada que acalma o bebê, o pulso se transforma no melhor termômetro para testar a temperatura da comida, a mente decodifica o acorde certo do choro de dor, de fome ou de manha. A maternagem surge como um bem inato não só às mulheres que parem – mas também àquelas que se dispõem à maternidade. Mãe é aquela que acolhe, que protege, que defende, que educa.


Mães são todas iguais, só mudam de endereço. Apesar da competição velada que nutrem entre si, as mães parecem constituir um grupo conciso de ideais e práticas – assim acreditam os filhos. Talvez eles estejam certos. Apesar de não terem um acordo declarado, as mães agem tacitamente a partir de um mesmo conceito: promover a felicidade da cria. É bem verdade que cada uma vai buscar os métodos específicos para assegurar-lhes esse bem. Umas empurram o filhote do ninho para ensinar-lhe a voar e lidar com as adversidades da vida. Outras o retém debaixo das asas, sob todos os cuidados, ignorando que a natureza gradualmente os transforma em semelhantes. Até que o caminho se inverte e o filho se torna o cuidador.

Mãe sempre sabe. Por ser aquela que mais acompanha o desenvolvimento da cria, a mãe ganha uma espécie de onisciência. Imbuída nesse grau divino, ela é aquela que mais entende sobre as problemáticas que a cria desenvolve ao longo da vida. Naturalmente, é aquela que mais se preocupa quando percebe que o filhote indefeso patina ao dar os primeiros passos. As mais sábias entendem que, como foi consigo, a prole precisará aprender com os primeiros tombos. As demais tentarão doutriná-los com regras e lições de vida – capacetes e joelheiras para que enfrentem a sociedade dura e competitiva. É a mãe quem descobre os primeiros segredos que a criança elabora e desenvolve: desmascara alguns, guarda outros como cúmplice, tenta esquecer aqueles que não consegue admitir.

A culpa é da mãe. Por ser o ente que mais acompanha a moldagem da personalidade do indivíduo, a mãe acabou recebendo a sina freudiana de ser responsável por limitações no desenvolvimento psíquico dos filhos. Seja pela ausência, seja pelo excesso, elas são julgadas e condenadas pela sociedade sob essa máxima. Não existe um manual infalível para mães – não por falta de tentativas de fazê-lo. É bem verdade que as relações maternas são decisivas na forma como cada um constrói relações subjetivas ao longo da vida. Mas o desenvolvimento também sofre interferências de outros inúmeros fatores. Desculpemos as mães, afinal...

... ser mãe é padecer no paraíso. A vida cobra da mulher a eficiência em todos os papeis que ela se dispõe a desempenhar. E, entre eles, está o de ser uma mãe exemplar, responsável por ensinar aos filhos essa tal eficiência de forma melhorada: os descendentes precisam superá-la em eficácia. Daí a mãe se enche de expectativas e, ao olhar para as crianças (serão sempre crianças), encontra seres humanos falhos. Menos inteligentes, menos independentes, menos bonitos, menos encaminhados... do que as cobranças do mundo. A mãe experimenta a culpa de ser mãe, se questiona onde errou, busca descobrir como fazer diferente para corrigir as imperfeições. Esquece-se, no entanto, que a perfeição não é para os humanos. O desenvolvimento, sim.

Você só descobrirá quando for mãe. O olhar tirano de quem julga se adocica instantaneamente ao ter a própria cria no colo. Só com a maternidade percebe-se que as milhares de regras e tratados são belíssimos e eficientíssimos nos livros. Mas que nem sempre são capazes de entrar em vigor no reino particular – onde a mãe é rainha soberana (pais, não se enganem). Porém, a contrapartida existe e a recompensa é maravilhosa. Só quem materna é capaz também de reter momentos importantes do desenvolvimento dos filhos, lembranças únicas em alegria, que só ela conseguirá compartilhar com a mesma carga afetiva: a euforia diante do primeiro desafio superado, o primeiro presentinho confeccionado com as próprias mãos, a descoberta do amor. Ser mãe vale a pena, garantem.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Faxina Emocional

É preciso muita coragem
Para examinar a sua mente,
E observar atentamente,
Aquilo que não te deixa ir pra frente,
Que não te deixa caminhar;
E o que não te deixa caminhar
são as ervas daninhas do não-perdão,
Que pareciam sementes inocentes,
De certas magóas, que você cultivou no seu coração,
E espalhou-se pelo Jardim da sua Consciência;
É no Jardim da Consciência que mora a sua essência estagnada,
Por tudo aquilo que empaca a sua jornada,
Aquilo que você não perdoou e deixou guardado para alguma ocasião;
A ocasião chegou,
Limpa a sua mente,
Livra a sua alma,
Deixa a compaixão tomar de conta,
E toma do divino a grande lição:
Perdoar é se libertar da ignorância de achar que somos diferentes!

Frank Oliveira

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mantra : O Som da Iluminação



Um mantra, proteção mental, é uma série de sílabas místicas que invocam a energia de um buddha ou bodhisattva. A repetição (sânsc. japa) de mantras no Vajrayana é tão importante que o buddhismo esotérico também é chamado Mantrayana, o Veículo do Mantra. Existem também os dharanis, mantras mais longos, e as sílabas semente (sânsc. bija) que sintetizam a essência da mente iluminada.

Os antigos mahasanghikas tinham em seu cânone uma coleção especial de fórmulas mântricas chamada Dharani Pitaka ou Vidyadhara Pitaka. Os dharanis eram meios de fixar a mente sobre uma idéia ou pensamento, uma visão ou experiência obtida na meditação. Estes podem representar a quintessência de um ensinamento, assim como a experiência de determinados estados de consciência, que desta forma podem ser relembrados ou recriados deliberadamente a qualquer momento. Por isso também são chamados de suportes, receptáculos ou berços da sabedoria (sânsc. vidyadhara). Não são funcionalmente diferentes dos mantras, mas em certo grau nas suas formas, já que podem atingir uma extensão considerável e algumas vezes representam a combinação de vários mantras ou sílabas sementes (sânsc. bija-mantra), ou a quintessência de um texto sagrado. Eles eram tanto um produto quanto meio de meditação: "Através da meditação profunda (sânsc. samadhi), adquire-se uma verdade; através do dharani, ela é fixada e retida na memória". [...] Nos textos páli mais antigos [da tradição Theravada], encontramos mantras de proteção ou parittas para afastar perigos, doenças, cobras, espíritos, influências nefastas e outras, assim como criar condições benéficas como saúde, felicidade, paz, um renascimento feliz, riqueza e assim por diante.

(Lama Anagarika Govinda, Foundations of Tibetan Mysticism)

O fundamento filosófico da escola hindu Mimamsa influenciou o uso de mantras no buddhismo Mahayana e Vajrayana.

Em alguns sistemas hindus, diz-se que os mantras são sons primordiais que possuem poder em e por si mesmos. No tantra buddhista tibetano, os mantras não têm tal poder inerente — a menos que sejam recitados por alguém com uma mente focalizada, eles são apenas sons. Porém, para as pessoas com uma atitude adequada, os mantras podem ser poderosas ferramentas que ajudam no processo de transformação.

(John Powers, Introduction to Tibetan Buddhism)
Já que [as sílabas dos mantras] são os símbolos ou marcas do Dharma, elas são definidas como o selo de todos os buddhas. Já que a divindade e o mantra não são diferentes, elas são definidas com divindades por todos os yogis. Já que estas marcas têm a habilidade de abençoar o fluxo mental dos seres sencientes, elas são definidas com buddhas. Já que as bênçãos dos tathagatas estão misturadas com os fenômenos do amadurecimento kármico, elas são definidas como aparência. Já que a sabedoria dos buddhas abençoou as sílabas, elas são definidas como indivisíveis.

(Jamgön Kongtrül Lodrö Thaye, The Light of Wisdom)

Um mantra não é nem uma "palavra mágica" nem um "encantamento". é um instrumento da representação e concentração mentais e por isso um recurso do poder mental (mas não de forças sobrenaturais). A raiz man significa "pensar", enquanto o sufixo tra exprime um instrumento, um recurso de acionamento. O efeito do mantra não depende, por conseguinte, de sua entonação — este é outro mal-entendido amplamente divulgado —, mas sim da atitude mental, das associações conscientes e inconscientes que são criadas através da intuição e dos exercícios a ela ligados.

(Lama Anagarika Govinda, Reflexões Budistas)

A relação entre a fala, a respiração e o mantra pode ser melhor demonstrada através do método pelo qual o mantra funciona. [...] Através da pronunciação repetida, pode-se obter controle sobre uma determinada forma de energia. A energia do indivíduo está fortemente ligada à energia externa, e uma pode influenciar a outra. [...] É possível influenciar a energia externa, efetuando os assim chamados "milagres". Tal atividade é realmente o resultado de se ter controle sobre a própria energia, através do qual se obtém a capacidade de comando sobre fenômenos externos.

(Chögyal Namkhai Norbu, Dzogchen)

Para contar as recitações, geralmente se utiliza um rosário (sânsc. mala, japamala, tib. trengwa / phreng ba) de cento e oito contas. Na prática, considera-se que uma volta do rosário equivale a cem mantras; os oito restantes servem para compensar os mantras recitados distraidamente.
Om Mani Padme Hum, monograna sânscrito

O mantra mais conhecido do buddhismo tibetano é Om Mani Padme Hum (os tibetanos pronunciam Om Mani Peme Hum), associado ao bodhisattva da compaixão, Avalokiteshvara. Nesse mantra, a sílaba Om representa a presença física de todos os buddhas. A palavra Mani, que em sânscrito significa jóia, simboliza a jóia da compaixão de Avalokiteshvara, capaz de realizar todos os desejos. A palavra Padme significa lótus, a bela flor que nasce no lodo; do mesmo modo, devemos superar o lodo das negatividades e desabrochar as qualidades positivas. A sílaba Hum, representando a mente iluminada, encerra o mantra.

Os mantras nem sempre possuem um significado claro e muitos deles são compostos por sílabas aparentemente ininteligíveis. Mesmo assim, eles

São efetivos porque ajudam a manter a mente quieta e pacífica, integrando-a automaticamente na concentração. Eles fazem a mente ser receptiva às vibrações muito sutis e, portanto, aumentam sua percepção. Sua recitação erradica as negatividades grosseiras e a verdadeira natureza das coisas pode ser refletida na claridade resultante em sua mente.

(Lama Zopa Rinpoche, Wisdom Energy)

Como atuam os mantras? O som exerce um poderoso efeito sobre nosso corpo e nossa mente. E pode acalmar-nos e dar-nos prazer ou ter influência desarmoniosa, gerando uma sensação sutil de irritação. O mantra é ainda mais poderoso do que um som comum: é como uma porta que se abre para a profundidade da experiencia. Visto que os mantras não têm sentido conceitual, não evocam respostas predeterminadas. Quando entoamos um mantra, ficamos livres para transcender os reflexos habituais. O som do mantra pode tranqüilizar a mente e os sentidos, relaxar o corpo e ligar-nos com uma energia natural e curativa.

(Tarthang Tulku, A mente oculta da liberdade)

Recitamos e meditamos sobre o mantra, que é o som iluminado, a fala da divindade, a união do som com a vacuidade. [...] Ele não possui uma realidade intrínseca, é simplesmente a manifestação do som puro, experienciado simultaneamente com sua vacuidade. Através do mantra, não nos apegamos mais à realidade da fala e do som encontrados no cotidiano, mas os experienciamos como sendo vazios. Então, a confusão do aspecto da fala de nosso ser é transformada na consciência iluminada.

(Kalu Rinpoche, The Dharma)