sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Saga
Rodrigo Araês

Peço licença a todos
para a história que vou contar
história de uma vida
história de um despertar

Neste lar fui nascido
era outra casa
lá nos cafundós
de um nordeste esquecido
que tinha uma outra cara
feia de fazer dó

Minha mãe me deu a casa
meu pai me deu o teto
aqui andei e balbuciei
aprendi as primeiras letras
e nos livros me afundei

Na ausência de meus pais,
quando muito pequeno,
minha tia me criou,
depois fui ficando distraído
ensimesmado, esquecido,
nem lembrava da família
na minha loucura vivia

Já em Minas,
no planeta dos mistérios,
a rua era minha casa
e na rua fiquei
quando em São Paulo cheguei

Só estava em dois lugares,
brincando fora de casa
lendo ou xadrez jogando
no mundo da Lua...

A leitura me aquecia
com ela me esquecia
deste mundo, desta lida
desta vida tão comprida
deste mistério profundo
que me encasquetava
perturbava
no fundo, bem no fundo,

O que fazia eu aqui?

Música, conversa, madrugada,
nada de viola enluarada,
apenas samba, valsa e xaxado.

A poesia, música, e a dança,
que nunca fiz,
não explicavam o mistério
do viver aqui na Terra
neste corpo, nesta forma.

Até a matemática me desencantou,
a busca embatucou
e na ânsia do saber
caí dentro do oculto,
da tradição, do hermético.

Ali me refugiei,
como um náufrago numa ilha,
perdido neste espaço
chamado universo.

40 anos, ou mais, estive em busca,
guiado por minhas mães e meu irmão,
ao meu lado minha mulher e dois irmãos,
mais tarde todos do grupo
que me ajudaram a despertar o amor
que me mostraram que além da dor
existia a alegria
aceita sem nostalgia
de um passado que se perdia

Outros ao grupo se agregaram,
despertando-me o cardíaco,
- nesta quase me estropie –
mas foi apenas susto
um primeiro despertar.

Depois de muita prática
de tropeços e quedas
parti para novos rumos
“A musa me beijou e me tornei poeta”
abri um grande espaço
que quase arrancou pedaços
da minha cabeça e coração.

Parei com quase tudo
Nada Sou, Nada Sei.

No fim a simplicidade,
só o amor importa,
e, na base que me restou
de novo aqui estou,
nesta casa, neste lar,
para abrigá-los em meu peito
dizer com todo respeito
“Só o sonho é realidade”
e de tudo que aprendi
de tudo que ficou comigo
percebo que esta casa é meu abrigo
um reflexo do amor humano

Sei com toda certeza
que minha mãe, acima desta que amo
é esta Terra que me sustenta
que meu pai, que me conforta
nos cafés matinais,
é este Céu que me ilumina.

Que todos os seres são meus irmãos
e que esta família é abençoada
por ter meu Irmão como guia
mas cabe a vocês levar o Amor
para fora desta casa
pelos atos e trabalho,
pois não se fala de Amor
Amor implica em ação,
em negar a morte da vida,
que é o bem mais sublime.

Lembrem-se:
que na noite escura da Alma
quando a solidão nos acolhe
sempre resta o lugar onde nascemos
pois nosso sangue não nega
somos Pais e Mães da nossa Terra.